Editorial por: Silvana
Prado
Este mês o jornal era para ser sobre os 15 anos de Apoiar, no
entanto, aqui estou olhando para o computador sem saber direito o que escrever,
e apesar de tudo o que está acontecendo em minha vida tentar passar uma mensagem
positiva.
Eu queria poder escrever só sobre alegria, crescimento,
conquistas, mas de vez em quando a vida pega a gente de um jeito que fica
difícil até respirar.
Você sabe que está com problema sério quando, ao chegar para uma
visita no hospital, a recepcionista e enfermeiras já sabem seu nome, perguntam
como vai o paciente que você está visitando, ou seja, você está indo demais ao
hospital.
Em fevereiro passei um mês dificílimo com as internações de minha
mãe, ao ver o sofrimento dela e de toda a família que está envolvida na dor.
Dizem que trauma é quando você está numa situação onde a dor é
insuportável. Você não tem saída da
situação e não tem nada para fazer que possa resolvê-la. Assim é um trauma — ver
alguém que amamos num sofrimento enorme e, muito pouco pode ser feito; você
tenta dar conforto material, espiritual, mas a dor continua para você e para o
doente.
A gente reza, pede isto pede aquilo, de repente você pensa: —
Não tem ninguém ouvindo! Porque eu continuo a rezar? Depois de muita reza,
resolvi parar de rezar, chegou num ponto que eu não sabia mais o que pedir e
para que pedir se você não é atendido. Eu pensei que poderia fazer alguma coisa
que não me deixasse com a sensação de tanto abandono.
Lembrei-me de uma meditação que aprendi nesta minha última viagem,
você respira fundo quatro vezes focando na área do coração, depois começa se
lembrar de um momento muito feliz que lhe encha o coração com o sentimento da
gratidão. A gratidão traz equilíbrio aos dois lados do cérebro. Respirando e
sentindo a gratidão em seu coração, pense no seu problema. Eu passei a fazer
isto todos os dias e imaginava minha mãe recebendo toda esta energia amorosa.
Não sei se a ajudou, mas me ajudou demais.
É difícil às vezes frente ao sofrimento aceitar o momento como ele
é, ficar em paz mesmo frente a dor... a gente acha que tem de fazer alguma
coisa, Deus eu tenho de fazer alguma coisa! Senão parece que você está
falhando, que é negligente! Mas e se o que for pedido a você é que tenha
equilíbrio, e que, ao invés de desespero, sinta harmonia e aceite o momento como
ele é?
Talvez esta seja a coisa mais difícil a fazer, eu estou cansada de
saber disso, afinal todos estes anos estudando o Budismo me ensinaram alguma
coisa: é no silêncio que encontramos forças, Deus nos fala no silêncio.
Saberemos o que fazer quando ouvimos o silêncio, quando paramos todo barulho e
permitimos a paz fluir em nosso corpo e mente. Mas que lição difícil, eu vivo
esquecendo!
No meio de tanta dor, Deus gosta de provar minha fé. Chego uma
noite em casa e meu cachorrinho, que era uma luz na minha vida, tinha partido
deste mundo! Se alguém me dissesse que um ser humano podia sofrer tanto com a
morte de um simples cachorrinho, eu diria que era um absurdo! Mas pode, ele me
acompanhou de maneira incansável durante minha quimioterapia, não saia do meu
lado no quarto escuro que me escondia. Eu sempre disse que ele é um espírito de
luz que Deus enviou para me ajudar a passar tanta coisa, era amado no Apoiar por
todas as crianças e ajudou muitas vencerem seus medos, não conseguia morder
ninguém, mesmo que o machucassem.
É com enorme sentimento de gratidão que escrevo estas palavras, e
me lembro de uma frase de um livro: — E quando os anjos me perguntarem do que
eu me lembro direi a eles: eu me lembro de você! O reino animal é uma parte
energética importante em nossa vida, e esta é a razão que não como carne, pois,
se queremos dizer que eles são nossos amigos, como podemos devorá-los? Temos de
ter compaixão também por eles, honrá-los e defendê-los.
Mas eu tive de voltar minha atenção para tudo o que acontecia com
minha mãe, os dias vão passando a gente vai se distraindo, mas ainda escuto ele
andando pela casa, ou correndo atrás dos passarinhos no quintal. É meu cérebro
tentando diminuir minha dor, eu penso. Mas quem sabe ele ainda caminha do meu
lado! Quem pode dizer que sim, quem pode dizer que não?
Usei muito EFT estes dias para mim para minha mãe. Um dia cheguei ao hospital ela estava com muita dor e fiz o EFT em poucos minutos ela adormeceu a enfermeira veio dar o remédio para dor, mas não precisava mais. Fiz EFT em mim mesma em muitos momentos e penso que todo profissional da saúde deveria conhecer a técnica porque não conheço nada com um efeito tão rápido para dores físicas e da alma.
Nós não temos conhecimentos dos mistérios que nos serão revelados
amanhã, e somente no hoje podemos construir algo, somente hoje podemos sonhar
que o amanhã será melhor, não sabemos se um ente amado estará do nosso lado ou
não, não sabemos os caminhos que teremos de andar, mas aprendi nestes últimos
cursos que fiz, a dizer todos os dias diversas vezes por dia: Todas as minhas
necessidades são preenchidas além de minhas maiores
expectativas.
Talvez o mundo não esteja como eu quero, talvez eu vá dizer adeus
para mais uma pessoa que amo, afinal já foram tantos adeuses, mas eu gosto
daquela imagem do barquinho indo distante no horizonte, por fim a gente não o vê
mais, mas ele está lá em algum lugar no futuro nos esperando, e tenho a
esperança de que dias melhores chegarão, que outros sonhos nascerão, que outras
metas surgirão até o dia que Deus resolva também que é minha vez de entrar no
barquinho, e sei que ficarei feliz neste dia porque sei que o amor não acaba e
que a distância é só uma ilusão que podemos destruir até em nossos sonhos e tem
muita gente que me ama me esperando lá, onde a vida é real, porque aqui... esta
vida é um só uma ilusão.
Paz.
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